Sucessos e fracassos

Ter um filho autista é conviver com sucessos e fracassos do seu filho na aprendizagem das coisas simples às mais complexas. Algumas coisas simples ele tem dificuldade enorme de aprender. Outras mais complexas, ele tira de letra. Porque a aprendizagem tem a ver com o interesse dele, e isso é muito limitado.

Por exemplo, ele não se interessou muito por bicicleta. Desde quando a ganhou, foram poucas vezes em que ele subiu nela. Talvez tenhamos falhado em brincar mais com ele, ainda que empurrando ele pra lá e pra cá. A consequência foi que ele não aprendeu andar de bicicleta. Não estou dizendo andar sem rodinhas. Ele não consegue andar sozinho nem com as rodinhas. Ele não consegue dar a volta inteira com o pedal e quando faz força para pedalar, faz força nas duas pernas ao mesmo tempo. Isso acontece desde os primeiros anos, quando tinha o “velotrol”.

Andar de bicicleta com rodinha é algo simples. As vezes as crianças se atrapalham para virar na direção correta, algumas demoram um pouco mais para dar a volta completa no pedal e vão pedalando até a metade. Mas a maior dificuldade é o momento de andar sem rodinhas. Mas para o Isaque, andar com rodinhas ainda é um desafio.

Outra dificuldade é fazer o movimento com os pés e o corpo que dão o impulso, por exemplo, num balanço. Ele não consegue, enquanto balança, fazer o movimento de estender as pernas e depois dobrar as pernas. Então, precisamos empurrá-lo o tempo todo nesse brinquedo.

Porém, fomos surpreendidos dias atrás quando decidimos ensiná-lo a nadar sem a boia do braço. Ele adora piscina/mar. E por isso, não podemos descuidar um só segundo. No ano passado, na chácara onde fazemos o retiro da igreja, ele pulou na piscina sem boia, ainda bem que várias pessoas estavam por perto e o pegou.

Então, nosso planejamento era de durante as nossas férias, onde passaríamos alguns dias na casa da minha mãe, ir aos poucos tirando a boia, ensinando ele a bater as pernas e os braços, boiar, deixando a gente menos preocupados com ele próximo de piscinas. Então, no primeiro dia de piscina, após ele nadar alguns minutos com a boia, entramos com ele na piscina para o “treino”.

Tirei a boia e segurei ele no braço. A Raquel ficou a pouca distancia e ele deveria nadar até ela (o treino seria ir aumentando a distancia aos poucos). A nossa surpresa foi quando ele saiu nadando sozinho, sem ajuda nenhuma. Não precisou nem de treino. Até brincamos dizendo: vai ver que ele já sabia nadar a bastante tempo, mas nunca tínhamos tirado a boia dele.

piscina

No começo ele nadava na vertical, mas não afundava porque ficava batendo os pés. Aos poucos foi aprendendo a inclinar o corpo e nadar horizontalmente. No fim da tarde já estava afundando a cabeça dentro da água, ensaiando um mergulho.

Agora, o que é mais fácil, andar de bicicleta ou nadar? Vai entender né! Assim é a nossa vida com um autista. Com sucessos e fracassos.

Cortando o cabelo

Já expliquei aqui no blog como cortar o cabelo do Isaque é uma tarefa difícil, leia aqui. Já tentamos de tudo. Ele “treinou” cortando cabelo de boneca, e de um brinquedo que o cabelo é massinha, para ver se familiarizava com o ato e ficasse mais calmo quando fosse a vez de cortar o cabelo dele. Não resolveu. Tentei eu mesmo cortar, pra isso comprei uma maquina de raspar, mas ele também não deixou.

Foi então que Deus colocou no nosso caminho um cabeleireiro que tem a paciência de Jó. O Gilmar é membro da nossa igreja e fez curso recentemente. Eu comecei a cortar o cabelo com ele. E como não estava mais sendo possível segurar o Isaque para cortar o cabelo, pois ele está grande e forte, resolvemos levá-lo no Gilmar e desenvolver alguns treinos com o Isaque.

Começamos cortando o cabelo do Isaque em casa. O Gilmar trazia suas ferramentas de trabalho em casa, e cortava o cabelo do Isaque na frente da TV. As vezes, eu e a Raquel cortávamos o nosso cabelo primeiro, para ele ver, para depois cortar o dele. Essa experiência foi mais tranquila, mas ainda com bastante resistência dele.

corte cabelo

Depois levamos ele para o salão do Gilmar. No começo o Gilmar fechava as portas, porque o Isaque fazia um escândalo que parecia que estava sendo maltratado. Começamos a recompensá-lo com doce a cada vez que ele deixava passar a máquina de cortar. Passava a maquininha e o Gilmar dava um docinho.

Bom, finalmente o Isaque tem deixado o Gilmar cortar o cabelo dele. Depois de muita paciência, treinos e insistência, agora ele fica sentado sozinho na cadeira e não precisamos segurá-lo. O corte que demorava no mínimo uma hora, nos últimos três meses duraram 15 minutos.

Tentei levá-lo em outro cabeleireiro, mas não deu certo. O rapaz não tinha a mesma paciência e o Isaque não quis nem sequer sentar na cadeira. No momento, o único que pode mexer no cabelo do Isaque é o Gilmar.

Agradecemos a paciência desse nosso irmão que está sendo bênção para nossa família. E agradecemos a Deus, porque quando ficamos preocupados sobre como resolver determinado problema, o Senhor coloca a solução do problema bem do nosso lado, em alguém que nem imaginávamos.

Glória a Deus que nos surpreende a cada dia

Atualizando “fazendo compras”

Vou tentar retomar o blog esse ano. Então, queria atualizar as informações, descrever os progressos e compartilhar nossas lutas até aqui com o nosso autista.

Eu havia compartilhado no blog da dificuldade que tínhamos em fazer compras no supermercado porque o Isaque não parava de andar. Veja aqui o texto. A unica forma que encontramos naquele momento foi o seguinte: enquanto a Raquel fazia as compras eu andava com o Isaque pelo mercado, percorrendo alguns quilômetros até o final das compras.

A boa notícia é que ele progrediu nesse quesito.

 

mercadoAgora ele ajuda a fazer as compras. Ele fica responsável em colocar os produtos no carrinho e empurrá-lo. A Raquel pega na prateleira e dá na mão dele para colocar no carrinho. E ele gostou da sua função.

O problema é que ele passa pelos corredores do mercado pegando as coisas de que gosta e colocando dentro do carrinho. E antes de chegar no caixa eu vou tirando as coisas que ele pegou e devolvendo para a prateleira.

Ontem aconteceu assim. Passamos ao mercado para pegar algumas coisas que faltavam e ele pegou uma bolacha e colocou dentro do carrinho. Foi então que encontramos a irmã Isabel e sua filha. Enquanto conversávamos com elas, notei que ele pegou um pacotinho de “toddynho” e colocou no carrinho. A conversa continuou e ele pegou mais um pacote e colocou no carrinho. No final da conversa, não havia mais “toddynho” na prateleira. Ele tinha colocado tudo no carrinho. Tinha “toddynho” para o ano todo.

A parte boa da história é que ele ficou todo o tempo do nosso lado. Antigamente, precisávamos ficar correndo atrás dele pelo mercado.

Temos aprendido a cada dia que não podemos excluí-lo dos lugares porque seu comportamento não é o desejado. Se nunca mais tivéssemos levado ele ao mercado, para ele não ficar correndo pelos corredores, ele nunca teria aprendido a ficar do nosso lado. Para evitar um comportamento indesejado teríamos impedido que ele aprendesse um comportamento correto. Esse continua sendo nosso desafio em dezenas de outras questões.

 

 

Longos 78 dias

Faz tempo que não escrevo no blog. É que depois do último post, quando compartilhei que o Isaque tinha mudado de escola, ele teve que fazer uma pausa em quase tudo. Ele interrompeu as aulas, as terapias, ficou de “molho” nas férias, ficou algumas semanas sem ir à igreja, teve uma parada forçada.

É que no final de novembro, brincando no escorregador da escola, ele fraturou a tíbia. Ficou 78 dias de gesso. Ficou a primeira semana só deitado e sentindo dor. Nas semanas seguintes, foi impossível mantê-lo quieto. Embora não pudesse, ele andava mesmo entando com toda a perna engessada. Com isso, o gesso precisava ser trocado com frequência, pois ficava mole e se deteriorava.

Isaque de gesso

Agora ele já está bem. Ainda manca um pouquinho, mas é pelo tempo que a perna ficou imobilizada. Também está fazendo fisioterapia e amanhã retoma a Terapia Ocupacional e também a Fono. Ou seja, depois de três meses, ele está retomando essa semana o seu dia-a-dia normal. Hoje ele já foi para a escola. Ficou chorando. Já estava desacostumado.

O que aprendemos? Depois do susto, da reviravolta que a nossa vida passa. Da paciência que precisamos exercer. Depois de tudo isso, a vida volta ao normal. Não adianta ficar desesperado, preocupado demais, ansioso. Depois do choro vem a alegria. Hoje estamos alegres!

O Isaque e a escola

No início desse ano o Isaque começou o maternal por recomendação médica. A ideia era “forçar” a interação dele com as outras crianças.

Ele gostou da escolinha. Ao contrário da anterior, onde a Raquel trabalhou, que ele começava a reclamar quando percebia que estava chegando perto da escola, nessa ele vai todo contente.

As crianças da escola adoram ele. Eu chego pra deixá-lo, e encontro com outros pais com seus filhos, e alguma criança fala para o pai ou a mãe: “olha o Isaque”.

No começo do ano letivo, percebemos a dificuldade que a escola tinha em trabalhar com ele. Na hora de recreação quando as crianças iam para o parque, o Isaque ficava do outro lado da escola com uma auxiliar, porque ele evitava estar próximo de outras crianças. Na sala de aula, porque o Isaque não ficava sentadinho, pelo contrário, ele ficava correndo pela classe, dando seus gritinhos, e querendo sair todo tempo (ele não gosta de ficar em ambiente fechado), a auxiliar da professora acabava saindo da classe com ele pra não atrapalhar a aula das outras crianças.

Começamos a perceber que ele estava sendo “cuidado” na escola. Eles não sabiam como trabalhar com o Isaque, e isso estava nos deixando incomodados. Na primeira reunião de pais, quando pegamos as atividades que os filhos fizeram no trimestre, o Isaque não tinha feito praticamente nada. Outra coisa que acontecia era que, uma hora antes dele sair, ele ficava com sono, e dormia na escola. Quase todos os dias quando ia buscá-lo, ele estava dormindo.

Mas passado o tempo nós começamos a ver resultados. Ele tinha perdido o “medo” de estar junto de outras crianças. Não mais se incomodava de ser tocado por elas. Ele começou a ficar junto com elas no parquinho. Descobriu e adorou o escorregador. Já não estava saindo mais da sala. Começou a aparecer suas “atividades” na sala. Começou a pedir para ir no banheiro. Era carinhoso com a professora e os alunos. E no final de agosto eu estava começando deixá-lo entrar sozinho na escola. Deixava ele no portão, e ele seguia em direção ao pátio e entrava no corredor a caminho da sua classe. Ainda observava de longe, as vezes ele se distraia e tomava outra direção, mas estava quase chegando lá.

Foi então que eu e a Raquel tomamos uma decisão dificil: mudamos ele para a escola da APAE. Depois de descobrir que a APAE da nossa cidade era referência no trabalho com autismo. Depois que o Isaque passou por todos os médicos da APAE pra que eles confirmassem o diagnóstico de autismo. Depois de toda uma avaliação, a psicóloga da APAE nos sugeriu a mudança e nos falou de como funcionava a escola deles.

Na APAE existe uma ala especialmente voltada para os autistas. As salas de aula são compostas por 5 alunos, uma professora e uma auxiliar (na que o Isaque estava a classe tinha 16 alunos para uma professora e uma auxiliar). Só aí já vimos que na APAE o Isaque poderia ser melhor trabalhado na parte pedagógica.

Uma outra coisa que nos incentivou fazer a mudança de escola é que na escola da APAE, os profisisonais da saúde auxiliam no aprendizado da criança junto a sala de aula. Então, a TO, a Fono, a Psicóloga, a Psicopedagoga vão semanalmente nas salas orientando a professora. Além disso, as crianças contam com terapias alternativas, que no caso deles, é muito importante. Então as crianças têm lá: arteterapia, musicoterapia, hidroterapia, equoterapia, e outros.

Mais um motivo da nossa decisão: Quando a gente descobre que tem um filho autista, os sonhos de vê-lo se formar na escola, fazer uma faculdade, aprender inglês, esses sonhos são despedaçados, pois essas coisas se tornam incertas. Então, começamos a alimentar o simples sonho de que ele seja feliz. Na escola tradicional o ensino é padronizado para crianças “normais”. Não existe material específico. A graduação é padronizada (maternal, infantil, primeiro, segundo, etc). Então, quando optamos pela APAE nós “abrimos mão” daquilo que é “padronizado” em favor dele ser trabalhado em suas deficiências e ter qualidade de vida.

E por último, na escola tradicional aqueles que saem do padrão recebem apelidos, são excluídos, sofrem bullying. Eu sei que existe toda uma vontade de que as escolas possam fazer a “inclusão” nas salas de aula. De que os “normais” e os deficientes possam conviver juntos. Eu sei que isso, inclusive, pode ser ótimo para a sociedade. Mas por enquanto, isso é só vontade. Inclusão nas escolas está só no papel. A sociedade é preconceituosa, e os pais de crianças “normais” não querem que seus filhos estejam sendo atrasado pelas crianças “deficientes”, mesmo que o contato com essas crianças possam estar possibilitando experiências enriquecedoras para seus filhos. A mentalidade de vencedor, de melhor, de conquistar, de se dar bem, permeia a sociedade. E isso não muda do dia para a noite.

Mesmo diante de todos os motivos que apresentei para fazer essa mudança de escola, não posso afirmar que fizemos o correto. O que fizemos foi orar muito buscando direção de Deus, avaliar os prós e os contras, observar ao nosso redor o que Deus estava fazendo, e discernimos que essa era a decisão a ser tomada no momento.

Últimas novidades

Faz tempo desde meu último post. A razão é que os meses de maio e junho foram muito corridos pra nós. Depois, saímos de férias em julho e ficamos desconectados. Agora, já de volta ao trabalho e também à correria (parece impossível viver sem ela), quero começar a compartilhar algumas novidades, se tiver tempo, é claro.

Compartilhei aqui no blog sobre o cachorro que queríamos para o Isaque. Demos então pra ele de aniversário. Uma Golden fêmea chamada Layla.

Pegamos a Layla com 45 dias e agora ela já tem 3 mesês e o triplo do peso e do tamanho da foto. E como está a interação do Isaque com ela?

No primeiro dia da Layla em casa, o Isaque a ignorou. Não quis brincar com ela. Porém, quando anoiteceu, ele foi ao quarto onde ela estava ficando. Ela estava dormindo ao lado de uma cadeirinha e eu fui de mancinho ver o quê o Isaque estava fazendo e peguei ele sentado na cadeira passando a mão na Layla.

Nos primeiros dias ele demonstrou um pouco de ciúmes. Fez alguns xixis na roupa para nos chamar a atenção, mas já melhorou esse comportamento.

A Layla não pode ver o Isaque que ela fica atrás dele. Pulando, mordendo a calça, querendo brincar. Ele foge dela. Reclama quando ela pula nele. Ela toma as coisas que o Isaque gosta de ficar na mão, e ele, quando isso acontece, vai atrás dela para tomar de volta.

Ele não brinca com a cadela como outra criança, mas se diverte em ver nos correndo atrás da Layla ou ficando brava com ela. Quando pedimos pra ele fazer carinho nela, ele chega perto, dá um tapinha na cabeça dela e sai. Com nosso apoio, ele joga a bolinha pra ela. Tudo muito tímido ainda, mas esperamos que essa relação possa crescer.

Tenho mais novidades para compartilhar e espero fazer isso nas próximas semanas.

 

 

Brinquedos

Como toda criança, o Isaque tem bastante brinquedos. São frutos de 3 aniversários e 3 Dia das crianças. Ao contrário da maioria das crianças, ele não destrói seus brinquedos. Você pode pensar: “que bom! porque meu filho destrói tudo”. É, o Isaque tem tudo inteirinho. Aí você diz: “que menino comportado!”. Vou te dizer porque ele não destrói seus brinquedos:

Ele não destrói porque ele não brinca. Pouquíssimos brinquedos chamam a atenção dele. Alguns brinquedos ele só pega se estivermos incentivando ele a brincar. Por exemplo: ele tem alguns brinquedos de formas (redondo, quadrado, triângulo, etc). Esse tipo de brinquedo é usado na terapia ocupacional e nós reforçamos em casa. Ele já sabe as formas. Então pegamos um relógio de formas que ele tem e, com a gente fazendo o papel de um facilitador, dando as formas nas mãos dele pra ele poder encaixar, ele faz, encaixa todas as peças, e já pára em seguida com a brincadeira, querendo sair.

Bola, que todo menino gosta, ele dá uns dois chutes e não quer mais brincar. Bicicleta e motoquinha, ele senta pra gente empurrar e depois de algumas voltas, já não quer mais. Carrinho ele pega na mão, mas não se interessa muito em jogar (fazê-lo andar). Bolinhas de sabão ele estoura as bolinhas que fazemos, mas não se prende muito a isso. Brinquedos de encaixe só com a gente insistindo com ele. Desenhar nem pensar.

Poucas coisas, poucas mesmo, são do interesse do Isaque. O preferido dele é assistir filme infantil. Isso se deixar ele passa o dia todo assistindo. Filmes como “a era do gelo, madagascar, robôs” e musicais como: “crianças diante do trono, a turma do print, cocoricó” são os seus preferidos.

Uma outra coisa que ele se interessa é por brinquedos de apertar que fazem sons. Por exemplo, ele tem um celular que vai apertando e o brinquedo diz os números ou as letras. Esse brinquedo ele costuma levar para o carro e fica apertando o tempo todo. Também um notebook de brinquedo onde vai apertando e vai tocando músicas e fazendo sons dos mais diversos.

Não é bem um brinquedos, mas ele gosta bastante de ver revistas com imagens. Ele gosta muito de uma Bíblia que ele ganhou antes de nascer. Todos os dias antes de dormir, ele passa as páginas da bíblia olhando suas figuras. Também uma revista com imagens de legumes. A revista é para conhecer o nome de legumes, mas ele gosta mesmo é de ver as figuras. Ele também tira os encartes dos DVDs para ver as figuras.

Como vocês podem perceber, a área de interesse do Isaque é muito limitada. O nosso desafio é abrir o leque de seu interesse e ajudá-lo a conhecer, se interessar e brincar com mais coisas. E quem sabe, também destruir alguns brinquedos!

 

 

 

 

Anencefalia e Autismo

O tema dessa semana foi a decisão do STF favorável ao aborto em caso de anencefalia. Longe de mim querer entrar nessa discussão, pois é um tanto complexa e tem fundamentos filosóficos e religiosos. Mas tenho uma indignação e uma preocupação:

A indignação é que sempre que o tema “aborto” vem à tona, fala-se em direito da mãe em escolher entre vida e morte, e pouco se fala em direito do bebê em escolher viver ou morrer. Fala-se do sofrimento da mãe e não se fala no sofrimento do bebê. Tem muita gente (médico, psicólogo, feministas, etc) pra defender a escolha da mãe, e tem pouca gente (alguns poucos religiosos) pra defender a vida do bebê. Esta é a minha indignação!

A preocupação é que, aos poucos, talvez inconscientemente, nós vamos fazendo um paralelo e colocando do lado direito o ser humano perfeito, inteligente e saudável, e do lado esquerdo o ser humano deficiente, limitado intelectualmente e doente. E quando começamos a fazer essa distinção, a separar o “perfeito” do “imperfeito”, logo surgem os preconceitos e pior, a inclinação para “matar” quem não se ajusta ao “padrão”.

A anencefalia do bebê pode ser descoberta através de um exame de ultrassonografia realizada a partir das 12 semanas de gestação. E agora, a mãe pode escolher interromper a gravidez (abortar) com esse diagnóstico em mãos.

A minha preocupação é que, cada vez mais a ciência consegue detectar doenças mais cedo (isso é muito bom), como é o caso também da síndrome de down, que pode ser detectado entre 14 e 18 semanas de gestação, e minha preocupação é isso dar espaço para a mãe ter o “direito” de escolher ter ou não um filho com síndrome de down. Minha preocupação é a mãe ter o “direito” de escolher entre ter ou não um filho com má formação física. Me preocupo em dar o “direito” da mãe escolher se vai ter o terceiro filho homem, ou se ela pode interromper a gravidez pra tentar ter a menina que a família tanto quer.

Pode parecer exagero da minha parte, mas quero lembrá-los que no passado, Hitler conseguiu convencer todo um país que, pessoas com qualquer tipo de deficiência (física ou mental) fossem exterminadas. Não seria mais difícil conseguir convencer a exterminar fetos que não podem se defender.

Onde quero chegar: E se a mãe soubesse em 12 semanas de gestação que teria um filho autista? Que esse filho iria exigir dela uma atenção maior, cuidados específicos, gastos extras no tratamento. Que talvez essa criança sofreria preconceito da sociedade, que sofreria bullyng na escola. Que teria dificuldades em se relacionar com as pessoas. Que talvez, essa pessoa, mesmo depois de adulta, iria continuar sendo dependente da mãe. Talvez não conseguisse trabalho e nem encontrar um cônjuge pra dividir a vida. Se a mãe soubesse de tudo isso com o filho ainda no ventre, o que ela escolheria?

Temo que no futuro não existam mais pessoas “diferentes” como o autista, o síndrome de down, o deficiente físico, etc. Não existam porque foi descoberto a cura para essa doenças, mas porque elas foram exterminadas no ventre por escolha de mães e pais.

Conscientização

Segunda-feira passada, 2 de abril,  foi o dia mundial de conscientização sobre o autismo. Compartilhei imagens pelo facebook. Me vesti de azul. Curti encontros de pais de autistas espalhados pelo país, e só não fui fazer passeata porque não fiquei sabendo de nada aqui na minha região. Mas eu quero confessar uma coisa:

Eu acho tudo isso inútil! O que falta nas pessoas não é conscietização. Eu não creio na máxima de que a educação seja a solução dos problemas da humanidade. A classe baixa não tem educação é faz coisas terríveis com outras pessoas. Da mesma forma, jovens da classe média alta, tocam fogo em índios, matam mendingos, usam drogas pesadas e dirigem embriagados. Não é a falta de educação.

Quem não sabe que não podemos machucar as outras pessoas, que devemos respeitar os mais velhos, que devemos dar a preferência aos deficientes, as gestantes e mães com crianças no colo? Todos sabem disso. Existem cartazes e adesivos conscientizando sobre essas coisas básicas em todo lugar: no ônibus, no mercado, no hospital, nas ruas, etc. Agora, vai me dizer que você nunca viu um jovem parar o carro na vaga de idoso? Ou uma moça sentada na vaga do deficiente físico. Ou será que você nunca viu alguém reclamar da quantidade de idosos na fila do banco, o que faz com que a fila não ande?

Pergunto: Elas não sabem que essas pessoas devem ter a preferência? Sabem. Se entrevistados na rua, provavelmente vão defender essas coisas. Se tiverem com alguém nessa condição, vão exigir que a lei seja cumprida. Mas se estiverem cansados, atrasados, ou qualquer outro motivo menos nobre, eles vão fazer o que quiserem, vão sentar onde quiserem, e ai de quem chamar sua atenção.

Por isso que digo que o problema não é conscietização. O problema é muito mais embaixo. Mais profundo. O problema é de essência. O problema é falta de humanidade. Você pode pensar que todos somos humanos. Na verdade não somos. A nossa humanidade está descaracterizada, manchada, por escolhermos viver distante do Criador. Quando escolhemos autonomia pra nossa vida e se afastamos dAquele que sustenta a nossa vida, a consequência é nossas ações estarem bem mais próximo de um animal, menos humano.

Diante disso venho afirmar que não acredito na conscientização ou na educação para solução de qualquer problema que seja. Não creio que a conscientização fará que o Brasil seja menos preconceituoso, ou que a educação fará do nosso povo mais respeitável. Eu só acredito em transformação. Aquilo que acontece quando um ser desumanizado se encontra com o seu Criador, e isso começa a produzir transformação na maneira da gente enxergar as outras pessoas, na maneira como lidamos com aqueles que são “diferentes” de nós, passando a dar a preferência não porque existe uma lei que exige isso, mas porque isso é o que queremos fazer, independente de lei, fiscalização, etc.

Acredito que só um encontro transformador pode me fazer deixar de lado o EU (eu mereço, eu preciso, eu quero, eu faço) e me fazer a olhar para o próximo com compaixão, a desejar aliviar seu sofrimento, consolá-lo, entendê-lo e ajudá-lo. É nisso que eu creio!

 

Autistas vivem num outro mundo

Geralmente as pessoas associam o autismo a viver num outro mundo. Sempre que comentamos que o nosso filho é autista, logo as pessoas pensam que ele vive num mundinho particular dele. Mas não é isso. Ele mora no planeta Terra, Brasil, São Paulo…

É verdade que as vezes a impressão que temos é que ele está “viajando”. Ele não responde quando chamamos. Parece não estar prestando atenção quando conversamos próximo dele. Mas é só impressão mesmo.

O fato dele não se conectar às outras crianças para brincar, interagir, não significa que ele não queira. Certo dia, enquanto algumas crianças cantavam na igreja, o Isaque começou fazer “bico” pra chorar. Imediatamente, eu e a Raquel entendemos que ele queria estar no meio das crianças cantando. Outro dia, algumas crianças estavam brincando de “roda-roda”, e o Isaque estava deitado no chão observando atentamente elas brincarem. Colocamos ele no meio da roda e ele ficou todo sorridente.

O autismo cria dificuldade de interação, não a torna desnecessária. Por isso, temos empenhado para colocá-lo na roda, no meio das brincadeiras, participando de alguma forma, junto das outras crianças. Primeiro, porque isso “força” ele interagir, mesmo que timidamente. Segundo, porque ele quer companhia, quer amigos, deseja estar junto. Pessoas precisam de pessoas! Isso vale também para os autistas.

Notamos dias atrás que, enquanto estávamos falando dele, das suas terapias, o que precisávamos fazer, algumas coisas que tínhamos que mudar para ajudálo, nós observamos que ele começou a chorar, e desconfiamos que era por que estávamos falando dele. Outras vezes, quando falamos dele pra amigos, ele fica distante dando risada, motrando que sabe que é dele que estamos falando.

Então, ele está nesse mundo! Embora sinta, observe e experimente esse mundo de uma forma diferente da nossa. Ele também deseja se conectar, embora não saiba como fazer. É aí que entra o papel dos pais. De fazer a parte de um facilitador para o filho. Colocar ele na “roda”, no meio da turma, pra que ele vá perdendo o medo, para que vá aprendendo a começar uma conversa, chamar para uma brincadeira, iniciar uma interação.

Como eu disse, a interação não é natural pra ele, mas é necessária.